sábado, 20 de maio de 2017

Peixes do Mar Báltico apresentam tumores devido a vestígio nazista


Espécie de Bacalhau
Cientistas alemães constataram uma incidência de 25% de tumores entre um tipo de linguado encontrado numa área do Mar Báltico, próximo à cidade alemã de Kiel. Em outras áreas desse mar, essa percentagem é de cerca de 5%.
A hipótese é que as proliferações cancerosas possam estar relacionadas ao volume estimado em 1,6 milhão de toneladas de armamentos dos nazistas, afundados nos mares Báltico e do Norte ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Até recentemente, a espécie Limanda limanda era ignorada na pesca comercial, porém a escassez de espécies comestíveis tradicionais como o bacalhau e o hadoque tem feito crescer sua popularidade para o consumo humano.
“Não aconselharia ninguém a nadar no Mar Báltico” – Ao apresentar seus achados numa conferência em Rostock, na segunda-feira (15), os cientistas do Instituto Thünen de Ecologia Pesqueira enfatizaram tratar-se de dados preliminares. Mas advertiram que, à medida que as munições continuam a enferrujar e vazar, o impacto ambiental da descarga em massa de armas nazistas sobre as águas costeiras rasas pode ser muito mais grave do que se estimava.
Em comunicado à DW, o vice-diretor do Instituto Thünen, Thomas Lang, declarou que no momento a incidência elevada de tumores deve “ser vista como local” para o Limanda limanda. Num estudo anterior com bacalhaus não se encontrou qualquer indicação de um incremento, afirmou.
No entanto, outras fontes advertem contra os riscos para a saúde humana nas águas da região. “Eu não aconselharia ninguém a ir nadar no Mar Báltico”, diz Diana S. Pyrikova, diretora executiva da organização Diálogo Internacional sobre Munições Submarinas (Idum, na sigla em inglês). O grupo sediado em Haia, Holanda, estuda o descarte global de armas há mais de uma década.
Ameaça cancerígena – Pyrikova aponta que certas substâncias que vazam das antigas munições no fundo dos oceanos, como TNT e componentes de armamentos químicos, têm sido relacionadas ao câncer. Ela se preocupa que, ao consumir regularmente os peixes afetados, os humanos possam estar acumulando cancerígenos.
Segundo a agência de notícias DPA, outra equipe de pesquisadores da Universidade de Kiel registrou altos níveis de TNT entre os mexilhões que crescem em torno das munições enferrujadas. Apesar das apreensões, o secretário do Ambiente do estado de Schleswig-Holstein insiste que os armamentos afundados não devem ser vistos como causa única dos tumores.
Na conferência em Rostock, os cientistas explicaram que suas suspeitas de que a exposição ao explosivo TNT possa estar causando os tumores se baseia em experimentos realizados em laboratório. Certos peixes podem ser mais suscetíveis a acumular as substâncias tóxicas, dependendo da profundidade em que vivam e quanto tempo mantenham a água do mar dentro do corpo.
Não mais de 30 anos para agir – As armas da Alemanha nazista foram afundadas no mar por ordem das Forças Aliadas, após sua vitória sobre as tropas de Adolf Hitler em 1945. A maioria foi parar em áreas profundas do Báltico, perto das bacias de Bornholm e Gotlândia, porém parte foi também lançada em águas mais rasas. Os Estados Unidos, Reino Unido e França igualmente jogaram grandes quantidades de armamentos em suas costas.
Embora a maior parte da munição alemã descartada fosse convencional – explosivos ou armas de fogo – cerca de 40 mil toneladas continham substâncias de combate químico, como gás de mostarda, arsênico e fosgênio (gás lacrimogêneo e sufocante que ganhou terrível fama durante a Primeira Guerra Mundial).
Relatos históricos descrevem como barcos foram abarrotados de armamentos e em seguida naufragados, visando facilitar a localização futura, se necessário. Embora alguns cientistas afirmem que muitas das minas, bombas e granadas continuem seladas, outros alertam que a corrosão permitiria que elas se espalhem mais no fundo do mar, dispersando seu conteúdo.
“Muitos governos e Forças Armadas acham que é mais econômico deixá-las lá, e que a água salgada impedirá as substâncias químicas de se dissolverem, mas isso não é verdade”; enfatiza Pyrikova, do Idum.
Segundo a ONG, só restam de 25 a 30 anos para remover as munições, antes de estarem tão corroídas que não possam mais ser localizadas. E o pior é que seu conteúdo tóxico permaneceria na água e no sedimento no fundo do mar.
Governos fazem vista grossa – Novas tecnologias poderiam reduzir os efeitos nocivos das munições abandonadas, sem o enorme esforço de removê-las. “Esteiras de alta tecnologia podem ser instaladas no fundo do mar. Com o passar do tempo, elas dissolveriam os invólucros, absorveriam as substâncias químicas e lentamente ajudariam na recuperação do ambiente marinho”, propõe Pyrikova.
Entretanto mesmo isso exige um investimento substancial de governos que, até o momento, têm preferido fazer vista grossa ao problema, acusa. Atualmente não há nenhum acordo proibindo a eliminação de armas nos oceanos, e segundo certos relatórios, algumas forças militares ainda adotam essa prática.
O Idum está se esforçando para organizar uma conferência das Nações Unidas abordando o assunto. Segundo Pyrikova, contudo, a maioria dos políticos e diplomatas ainda se mostra surpresa diante da extensão do problema e de seu impacto ambiental. (Fonte: G1)

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